terça-feira, 13 de abril de 2010

RELEITURA ATUAL DO PANTOCRATOR BIZANTINO

A arte cristã primitiva proporcionou aos artistas uma vasta aplicação dos seus primeiros modelos. Depois que a imagem do Pantocrátor (gr.: Παντοκράτωρ) fora aplicado nos primeiros ícones, surgiram, posteriormente, grandes imagens da mesma tipologia feitas por artistas ocidentais contemporâneos, porém resgatando a mesma fonte: a iconografia bizantina.

Cláudio Pastro (São Paulo, Brasil, 1948) e suas "linhas essenciais" criaram uma nova espécie de "escola" de arte sacra brasileira, tornando-se referência nacional e internacionalmente.

Kiko Argüello (Leão, Espanha, 1939) nos traz, não só na arte (plástica e música), como também no culto, um modo antigo e sempre novo de se portar diante do Corpo de Cristo.


Dom Ruberval Monteiro, osb (Rolandia, Brasil, 1961) que, com sua espiritualidade beneditina, nos revela a face do Deus-Conosco através de suas linhas e cores, integrando a tradição da arte cristã no mundo contemporâneo e na Igreja de hoje.



A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!

terça-feira, 6 de abril de 2010

TIPOLOGIA ICONOGRÁFICA DA MÃE DE DEUS

A tradição ao referir-se a São Lucas, a quem primeiro pintou a Virgem, indica também que ele tenha pintado outros três ícones que são a base dos três tipos fundamentais sempre repetidos nos ícones: a Odighítria, Eleúsa e a Orante. Veremos cada um por si e seus subtipos ou variantes.


ODIGHÍTRIA

A tipologia da Virgem Odighítria (gr.: Οδηγήτρια; rus.: Одигитрия), que significa literalmente "Aquela que indica (guia, conduz, mostra) o Caminho", mostra, com um gesto indicativo da Virgem apontando na direção de Jesus, o caminho a ser seguido. Segundo uma auto-definição do próprio Jesus, quando disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14, 6).


Características básicas:

- Posição ereta e atitude frontal ou ligeiramente voltada para o lado da Virgem;
- O Menino abençoa com a mão direita e, com a esquerda segura o pergaminho;
- O olhar da Mãe está direcionado para o espectador. É pelo olhar que a Odighítria se distingue dos outros tipos;
- A mão da Virgem que indica o Caminho está pousada sobre o peito.

Alguns subtipos ou variantes:

Portaitissa (gr.: Πορταΐτισσα) ou Guardiã da Porta, também conhecida por Porta do Céu. Uma característica única desse ícone é o que parece ser uma cicatriz na bochecha direita ou no queixo da Virgem Maria. Outro famoso ícone que obedece a essas mesmas características é o da Virgem de Czestochowa.


Perpétuo Socorro (gr.: Αμόλυντος, imaculada) ou Virgem da Paixão. A particularidade fica ao encargo do Menino Jesus que agarra firmemente com as duas mãos a mão direita da Virgem, enquanto olha, assustado, os instrumentos de sua futura paixão.



Tricherousa (gr.: Τριχερούσα; serv.: Тројеручица) ou das Três Mãos. Em geral, neste ícone, a Virgem segura o Menino Jesus com a mão esquerda e a aponta com a direita, enquanto uma terceira mão aparece abaixo. Essa terceira mão fora posta posteriormente a pedido de S. João Damasceno ainda durante a luta iconoclasta, como um pedido de restituição de sua mão esquartejada.

Aquela que deu ao mundo o Cristo-Emanuel tornou-se a Guia para todos aqueles que buscam o caminho que conduz a Ele. Dele, eles recebem a Verdade e a Vida.


ELEÚSA

Eleoúsa (gr.: λεούσα) significa "a terna", "a compassiva"; assim, quando aplicada à Mãe de Deus, passa a ser um dos títulos iconográficos marianos mais conhecidos: Virgem da Ternura. Esse título é dado pelo afeto que une Mãe e Filho e exalta a humanidade de Cristo, em contraste com o tipo Odighítria, em que a ênfase incide na Divindade dele.

Características básicas:

A Virgem leva o Menino em seu braço direito (dexiocratoúsa), aperta-o contra si e, inclinado a cabeça, toca, com sua face, a face do Filho. Este, afetuosamente, acaricia a Mãe com sua mãozinha. Essas são as principais características da tipologia iconográfica da Theotókos Eleúsa.

Alguns subtipos ou variantes:

Glykophilousa (gr.: Γλυκοφιλούσα; rus.: Гликофилуса), que significa "a do beijo doce". Como o nome indica é expressa, principalmente, através dos carinhosos beijos.






A Pelagonitissa (gr.: Πελάγων, região da planície da Grécia) esse título deriva do local geográfico onde é principalmente cultuado. É uma variante da Theotókos Glykophilousa, onde apresenta a Mãe segurando o Menino nos braços, enquanto este se encontra de costas para o espectador, porém seus olhos se direcionam para quem o olha. A Virgem com uma das mãos agarra firmemente (com mão fechada) a perna do Menino.

Galaktotrophousa é outro subtipo que significa Aquela que amamenta ou, como também é conhecida, Madona do Leite. Apresenta um conceito bastante difundido no Ocidente, a Virgem Maria que amamenta o Menino Jesus e nos lembra a passagem bíblica em que uma anônima diz: Feliz o ventre que te trouxe e felizes os seios que te amamentaram (Lc 11,27).

Acolhestes o Verbo em teu seio, mandastes em quem governa todas as coisas, ó Puríssima, alimentaste com leite a quem, com um gesto, alimenta o universo inteiro.


Orante

A tipologia iconográfica da Virgem Orante pode ser representada de três formas principais:


- A primeira aparece sozinha, com as mãos voltadas para o alto e em posição frontal;
- A segunda, se apresenta com o Menino solto sobre o peito materno (em eixo vertical com a Mãe), em posição frontal, frequentemente circunscrito em uma espécie de medalhão de forma circular (clypeus);
- A terceira, aparece voltada para o lado e com uma ou as duas mãos em atitudes de súplica, intercessão. Este tipo de Virgem Orante é encontrado mais comumente nos ícones da Deésis.

Em todas essas representações da Virgem Orante, ela nos aparece como a imagem da Mediadora entre os fiéis e Cristo, como a Intercessora, como o modelo de oração ou como a Suplicante, tal representação é identificada pelas mãos elevadas e com as palmas voltadas para os céus.


Alguns subtipos ou variantes:

Platytera (gr.: Πλατυτέρα) significa A mais vasta, ou Platytera ton ouranon (gr.: Πλατυτέρα τν oυρανν) A mais vasta que o céu. Também conhecida como Virgem do Sinal. É um ícone do tipo Orante, que carrega o Menino no peito em volta de uma forma circular. O Menino, geralmente, abençoa ora com uma, ora com as duas mãos. Ambos, Mãe e Filho portam uma atitude frontal e seus olhos se voltam para o espectador.


Uma linda variante do mesmo tipo é o ícone da Mãe de Deus do Cálice de Inesgotável Tesouro (rus.: Неупиваемая Чаша), que mostra Maria no altar, onde nenhuma mulher pode servir e oferta o Cristo Eucarístico. A verdade é que Maria está sempre presente na Santa Mesa. Deus não pode tornar-se carne humana, exceto pelo ventre da Mãe de Deus e da sua vontade e cooperação com Deus. Neste ícone o Menino aparece dentro de um cálice de ouro no altar, abençoando com as duas mãos, geralmente representado a meio busto. Enquanto a Virgem aparece coroada, em casos raros apresenta sem a coroa.

A Virgem da Deésis (gr.: δέησις) ou Intercessão, é um subtipo da Virgem Orante que aparece sempre ladeado com Cristo. Este ícone não é um ícone propriamente mariano, pois a Virgem está voltada para seu Filho, colocando-o em primeiro plano.


Existem ainda inúmeros casos em que aparece a tipologia iconográfica da Orante. Nos ícones das Festas Litúrgicas ainda aparecem a Virgem como Orante nos ícones da Ascensão de Cristo, da Crucifixão, da Anunciação, de Pentecostes e outros.


Cristo, enquanto nascido do Pai indescritível, não pode ter imagem. Com efeito, que imagem poderia corresponder à Divindade, cuja representação é absolutamente proibida pela Sagrada Escritura? Todavia, uma vez que Cristo nasceu de uma Mãe descritível, Ele naturalmente tem uma imagem que corresponde à de sua Mãe. E se não pudesse ser representado pela arte, dir-se-ia que nascera apenas do Pai e que não se encarnou.



Fonte bibliográfica:

DONADEO, Irmã Maria. Ícones da Mãe de Deus. São Paulo: Paulinas, 1997;
DUARTE, Adélio Damasceno. Ícones: E o Verbo se fez rosto e armou sua tenda entre nós. Belo Horizonte: FUMARC, 2003;
PARRAVICINI, Ciovanna (org.). A vida de Maria em ícones. São Paulo, Loyola, 2008.


A Deus seja a Glória! Δόξα τω Θεώ!